segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Encontro não marcado.

Eu gosto de gente. Gosto daquelas que eu conheço há anos, embora sempre haja o que descobrir, e gosto, sobretudo, daquelas que são apresentadas a mim pelo acaso. Aquelas que encontrei por um descuido do destino, que poderia me colocar em qualquer lugar do mundo, mas me colocou ali, junto de criaturas que, por motivos diferentes, estavam no mesmo espaço e tempo que eu. Eu sei que todo mundo começa a se relacionar assim. Nenhum primeiro encontro deveria ser premeditado. São as veias de energia que pulsam no mundo que, como num movimento peristáltico, vão empurrando as pessoas para seus encontros. E o encontro não é só estar ali. Conheço gente que sempre esteve “ali” e nunca se encontrou de fato. Encontro é afetamento. É quando você repara que há mais alguém no mundo que merece atenção; quando a presença desse alguém é diferente da presença das árvores ou da mesa do bar; ou, é aquela inquietação com a pessoa que divide a mesma fila do caixa do supermercado, mas que por uma piada sem graça do mundo, você nunca vai nem falar com ela; encontro é quando você sente. O que me comove mesmo é isso: o bendito do encontro primeiro. Aquele em que há um desconserto, uma primeira chance. Aquele onde, na maioria das vezes, as nossas defesas estão sempre de prontidão e, contraditoriamente, protegendo o outro de nós mesmos. Mas até essa breve premeditação e comedimento, nos faz mais puros, porque isso é medo - emoção primária, instintiva. Dá medo porque gente é coisa séria. Julga cada centímetro de palavra, ou da falta dela. Gente faz diagnóstico por imagem, aproveita que o outro está ali, limpo, como um grande caderno de desenhos para colorir, e preenche com imaginação e aquarela própria ele inteirinho. Em alguns segundos, podemos ter quem quisermos à nossa frente. Podemos invejar a vida que levam porque essas pessoas ainda não são frágeis como nós. Não têm o peso da bagagem que a gente tem por se conhecer uma vida inteira. Elas são só os sorrisos educados, que a gente entende por felizes. Não sabemos das suas estórias; não sabemos se seus corações estão partidos, se têm boa relação com os pais, se têm medo de altura, de escuro; não sabemos o que elas enfrentam no trabalho, se choram assistindo filme, se elas se sentem sozinhas quando a luz apaga... Até que, a cada novo trejeito, frase, erro, gentileza, as pessoas vão enfim, tendo vida própria no encontro, na gente. Enchem-se de si mesmas, deixando de ser nossas meras projeções. Vão sendo um pouco de nós e nos deixam sê-las também. Logo elas vão se instalando num outro patamar, igualmente belo, que é a sua absorção na nossa vida e inevitavelmente sua partida, mas isso já é outra história.