As coisas foram feitas para
acabar. Você precisa se acostumar. A
cerveja, o final de semana, a infância, o amor... É preciso acabar. Somos
roubados pelo tempo o tempo todo. E não tem choro nem vela. Não adianta
argumentar, querer só mais um segundo, mais uma palavra, um beijo. O tempo e o
fim são filhos de um mesmo pai agiota. Não adianta ler devagar o bom livro,
pausar aquele baita filme... É preciso acabar. As coisas acabam porque não
somos capazes de suportar a eternidade delas. Algumas sensações são tão
inebriantes que nos tomariam a sanidade se permanecessem por longo tempo.
Ninguém suporta amor demais. A
pele eriça, a boca se transforma numa fenda profunda, as costelas não são
capazes de conter uma respiração atrevida e inconstante. É uma esquizofrenia
que não encontra pagadores dispostos ao seu preço. Ninguém suporta cólera
demais. É um gosto acre diluído nas veias, capaz de apodrecer a juventude.
Sobre a tristeza, desnecessário descrever os porquês da sua indigesta
permanência. Ninguém suporta sempre, nada. "A gente é feito pra acabar [...] a gente é feito pra caber"*. E estou longe de acreditar que isso seja um revés da vida. É o seu fluxograma
incorrigível. Cedo ou tarde é preciso parir nossas barrigas, mentes e corações,
que vivem grávidos, gestando um monte de gente, um monte de sentimento, um
monte de saudade... É preciso acabar. Saudosistas que se aprumem, que deixem
que as coisas acabem sem fazer da vida um funeral constante, um luto pelo que
já não faria sentido continuar. Ainda que seja doce, ainda que seja grande, sendo
amargo, angustiante... As coisas foram feitas para acabar. Você precisa se acostumar.