Eu sou uma pessoa de muitas dúvidas.
Pergunto-me muito e sempre o porquê das coisas. Seria uma ótima filósofa se
entendesse de filosofia. Mas não; eu só sei de duvidar. No entanto, não duvido
de tudo; acredito, por exemplo, nas pessoas. Acredito nos seus erros, na sua
capacidade intrínseca de dissimulação e na crueldade visceral; acredito também
nas suas risadas homéricas e na sua benevolência... Acredito em gente, sim. De
resto, eu finjo que acredito. É que é preciso parecer normal às vezes; e estar
diluído, silencioso, sem perguntas, é ingrediente da saúde mental. Vez ou outra a vida me
convence e acrescenta mais um item na lista de coisas que acredito. Devo
confessar que ela não tem um método muito sutil de ensino e acaba não sendo
clara. Mas eu entendo, eu quase sempre entendo o recado. Hoje, por exemplo,
entendi que os momentos mais difíceis que me aconteceram, os caminhos mais
duvidosos e tortos que percorri, foram aqueles em que as ausências de fé e
gratidão estiveram presentes. Ter fé é absolutamente preciso. Eu que duvido
tanto, tive que engolir que as ocasiões em que acreditei mais (em Deus, no
cosmos, no mundo, no destino) foram as mais leves da caminhada e, querendo ou
não, me trouxeram as coisas e pessoas pelas quais devo ser grata. Talvez o que
me falte seja a compreensão primeira de que ter fé não é uma simples espera
confortável e passiva, mas o aceite de que minha humana pequenez não permite o controle
do todo. E às vezes, só às vezes, é redentor jogar a vida no colo de outrem que
saiba o que fazer quando eu já não sei mais, nesse difícil trânsito entre a
responsabilidade e a humildade. Duvidar é preciso, mas acreditar é dar crédito à
vida, é crer que, apesar dos muitos planos que eu tenho pra ela, há muitos que
ela tem pra mim também – melhores.