Entendo
que estive errada. É que sou desajeitada mesmo, desculpe-me. Minhas falas, e
muitas vezes meus silêncios, são irrefletidos; pouco eles têm a ver com sabedoria. Vezes
dão certo, muitas outras não. Minha bagagem me ajuda quase nada; na verdade, me
confunde ainda mais. As palavras e ações me absorvem muito mais do que eu à
elas.
Já
fui mais espantada. Já me surpreendi mais e confesso que essa atitude me
causava uma felicidade mais contempladora, como se eu fosse desempacotando o
mundo aos poucos, para protelar essa sensação agridoce que é saber um pouco
mais. Hoje sou menos afetada, menos curiosa. Mas ainda é latente em mim alguns
lampejos de alegria quando descubro algo novo, ainda que não seja bom. Porque
saber é uma sensação ambivalente. É uma escolha atrevida, que tira a calma.
Sorte minha é que ainda sei pouco. Quanto mais leio, ouço, vivo... Menos sei.
Viver cada vez mais e saber cada vez menos pode ser bem assustador. Os anos
ajudam no corriqueiro, no trivial, no trato com as pessoas previsíveis e pobres
de alma, é a isso que damos o nome de experiência: Quando as coisas deixam de
ser novidade apenas pelas estatísticas. Mas, pra quem se dispõe a pensar sobre
o mundo, há sempre uma surpresa, um apavoramento. Muitas vezes desejei me
colocar junto aos tantos que vejo, que apenas fazem o que precisa ser feito e
enxergam as coisas tal qual elas se apresentam. Eu não; eu quero enxergar o que
não se mostra e por isso penso, penso... Não me admira que de tanto pensar, eu esqueça de sentir. Pessoa já havia dito: “pensar é estar doente dos olhos”.
Por isso estou aqui, com esses olhos enfermos, que querem enxergar beleza em
tudo, mas boicota o belo com o pensamento. Não há nada que deixe as coisas mais
insossas do que a racionalidade. Só as crianças é que são felizes.