Às vezes não sobra muito mesmo. Mas, no fundo, sempre
tem alguma coisa. Sempre tem um fiapo, um cheiro impregnado na ponta dos dedos,
quando se abraça o pescoço. Sempre sobra aquele olhar que sobreviveu aos três
segundos, e pode fazer com que aquele rosto seja um dia reconhecido. Sobra um
sorriso meio sem querer, um “desculpa” depois do esbarrão... Sobra um toque
descuidado e despercebido, não tem jeito... Sempre sobra um restinho de gente
na gente. Restinhos que vão se acomodando, como tijolos na nossa construção.
Aumentando o espaço, o gosto de gente, o gosto por gente. Gente de todo jeito,
que vem e logo vai, que foi sem nunca ter vindo; gente que te enrola e você
fica querendo; gente que te adora e você vai perdendo; gente que dura um
segundo e vale muito; gente que dura uma vida inteira e custa caro; gente que
nem sabe o tamanho que ocupa em você; gente que nunca vai saber... Gente que
você já esqueceu; gente que você perdeu; gente que te queria perto e você nem
percebeu; tem gente que vai e te leva; tem gente que você carrega e pesa; tem
gente que some e você agradece; gente pra quem você faria uma prece... Gente
que te faz, e gente que te desfaz; gente que nunca mais vai fazer; mas fez.
Gonzaguinha já disse o que eu queria dizer, em melhores
palavras e final: “[...] aprendi que se depende sempre de tanta, muita,
diferente gente; toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras
tantas pessoas, e é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta gente
onde quer que a gente vá; e é tão bonito quando a gente sente que nunca está
sozinho por mais que pense estar [...]”.
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