Eu também quis fazer poesia com a saudade, mas dessa vez ela
não era dramática, não sangrava. Dessa vez, ela ficou com vergonha das minhas mil
atividades diárias e resolveu não exigir muita atenção. Percebeu-me sem muito tempo para nos relacionarmos. Dessa vez, a saudade se
colocou, enfim, no seu lugar: ela dançou as nossas músicas, surfou nos cheiros, riu daquela ode que fizemos juntos, constrangeu-se com as fotos antigas, preencheu o espaço entre o apagar da luz
e a chegada do meu sono. Quando ensaiou doer, e exercer assim sua principal função, obedeceu-me sem pestanejar. Não usou meu celular, não colocou
palavras na minha boca, não jogou confete em nenhum silêncio e não fez
brigadeiro. Ela estava só, e só. Foi elegante, uma verdadeira dama, nada de
histerias e efusividades, um poço de sensatez! Preocupo-se comigo, na verdade. Eu, agradecida,
diante de tantas ausências, dessa vez, fiz questão da sua presença. Dessa vez.