sábado, 31 de maio de 2014

Por falar em saudade.

Eu também quis fazer poesia com a saudade, mas dessa vez ela não era dramática, não sangrava. Dessa vez, ela ficou com vergonha das minhas mil atividades diárias e resolveu não exigir muita atenção. Percebeu-me sem muito tempo para nos relacionarmos. Dessa vez, a saudade se colocou, enfim, no seu lugar: ela dançou as nossas músicas, surfou nos cheiros, riu daquela ode que fizemos juntos, constrangeu-se com as fotos antigas, preencheu o espaço entre o apagar da luz e a chegada do meu sono. Quando ensaiou doer, e exercer assim sua principal função, obedeceu-me sem pestanejar. Não usou meu celular, não colocou palavras na minha boca, não jogou confete em nenhum silêncio e não fez brigadeiro. Ela estava só, e só. Foi elegante, uma verdadeira dama, nada de histerias e efusividades, um poço de sensatez! Preocupo-se comigo, na verdade. Eu, agradecida, diante de tantas ausências, dessa vez, fiz questão da sua presença. Dessa vez.

Um comentário:

  1. Minha querida, vc tem produzido textos cada vez melhores. Sinto ares de Marta Medeiros e me delicio com seu crescimento como pessoa e como escritora. Avance! Te amo. Bjão

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