domingo, 6 de abril de 2014

Dos nossos excessos.

                     Falei mil vezes sobre as nossas diferenças querendo encaixar um pouco de curiosidade na gente. Fracassei. A verdade é que precisei, enfim, reconhecer o acordo tácito que fizemos, desde o começo, sobre as semelhanças inúteis que temos. Nunca poderemos firmar um tratado de completude, de somar com aquilo que tens demais, para aquilo que me falta. Tudo que me sobra, esparrama de ti também. Aí a gente fica com mãos sujas da gente mesmo, e corre, um do outro, porque não tem nada a acrescentar. Tudo que eu poderia te dar, tu faz doação em campanha, porque já não tem onde guardar. Tudo que tu terias pra presentear a minha vida, eu deixo apodrecer em sacolas na despensa de casa, numa oferta que sobrepõe a procura e barateia nossa permanência na vida um do outro. Talvez por isso tua ausência me soe tão presente, ela sim faz sentido. Somente quando não estamos juntos tu me acrescentas alguma coisa. A saudade que sinto me faz melhor e oferece a única coisa que não tenho de ti: tu mesmo. Quando tu estás, eu me farto de tanto nós. Encho das nossas sandices e saio cansada como um moleque ao fim de um dia de praia. Quando tu não estás é que finalmente tu te apresentas na minha vida de maneira mais cheia de paz. Quando tu não estás eu não preciso te entender, nem me cansar, nem transbordar. Quando tu não estás eu tenho o melhor de nós. Eu gosto de perceber tua ausência, é a maneira que o mundo encontrou de nos deixar juntos sem causar danos, já que de outra forma a gente explodiria por excesso. Por excesso de dor. Por excesso de alegria.

8 comentários:

  1. Oxa Edu, eu que agradeço! De verdade! ;)

    ResponderExcluir
  2. Bisbilhotando teu blog, lendo este post, lembrei deste poema.Duvido que você não o conheça.Não vi motivos para não postar pois afinal Pablo Neruda nunca é uma má escolha.

    Poema 15
    ME gustas cuando callas porque estás como ausente,
    y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
    Parece que los ojos se te hubieran volado
    y parece que un beso te cerrara la boca.

    Como todas las cosas están llenas de mi alma
    emerges de las cosas, llena del alma mía.
    Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
    y te pareces a la palabra melancolía.

    Me gustas cuando callas y estás como distante.
    Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
    Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
    déjame que me calle con el silencio tuyo.

    Déjame que te hable también con tu silencio
    claro como una lámpara, simple como un anillo.
    Eres como la noche, callada y constelada.
    Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

    Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
    Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
    Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
    Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.
    ============
    Desculpa pelo anônimo. Você não me conhece, mas temos uma certa proximidade. Poucos graus de separação. E na boa, nos tempos de hoje, curto ser admirador secreto. É Vintage. ;)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não conhecia este do Neruda. Sou uma pseudo-farsa. Apesar do amor que sinto pelos poemas, os tenho lido pouco. Gostei muito, essa "presença da ausência"é algo que rouba atenção. Sem problemas o anonimato. Não tenho garantia de conhecer de verdade os conhecidos, que mal há em um anônimo assumido? Obrigada pela contribuição. Faça isso sempre que puder. ;)

      Excluir
  3. Lembrei só hoje de ti, por motivos que não posso dizer, pois poderiam dar fim ao meu anonimato.

    Sou um cara tranquilo, tô achando muito divertida está história do admirador secreto. Engraçado que cuido até da forma que escrevo pois tenho um jeito muito peculiar de escrever.

    Te vi outro dia numa festa, linda como sempre. Não adianta pensar em qual, foi faz tempo, escrevo como William Faulkener, uso fluxo de consciência , tudo vem e vai num universo atemporal.

    Meio nerd a conversa, mas essa é a graça para mim, posso ser eu mesmo sem medo de assusta as pessoas com minhas citações e alusões a fatos não corriqueiros.

    É , bebi um pouco hoje.

    Não tenha medo de mim, sou inofensivo.Faço isso porque me diverte.Tô criando uma "intimidade" com uma mulher que admiro, te acho demais, de verdade.

    De valor a isso, não é normal em mim.

    E por isso, como te admiro, por favor, pelo teu fã,não te desvaloriza.

    Alias te proíbo!

    Pseudo-farsa é forte.

    20 poemas de amor y una cancíon desesperada é o supra-sumo do poesia romântica. Te deixo aqui o poema que eu mais gosto, o número 20:

    PUEDO escribir los versos más tristes esta noche.

    Escribir, por ejemplo: "La noche está estrellada,
    y tiritan, azules, los astros, a lo lejos".

    El viento de la noche gira en el cielo y canta.

    Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
    Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

    En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
    La besé tantas veces bajo el cielo infinito.

    Ella me quiso, a veces yo también la quería.
    Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.

    Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
    Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

    Oir la noche inmensa, más inmensa sin ella.
    Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.

    Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
    La noche está estrellada y ella no está conmigo.

    Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
    Mi alma no se contenta con haberla perdido.

    Como para acercarla mi mirada la busca.
    Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

    La misma noche que hace blanquear los mismos
    árboles.
    Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.

    Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
    Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

    De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
    Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

    Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
    Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

    Porque en noches como ésta la tuve entre mis
    brazos,
    mi alma no se contenta con haberla perdido.

    Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
    y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.

    ResponderExcluir
  4. Deixei alguns erros. Catso! Vacilei. Não dá mais pra corrigir

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Quanta altivez na proibição, haha. Não se ofenda com a "pseudo-farsa", se reparares, é uma contradição ;) . E quer dizer então que já te li? De que outro modo eu poderia identificar tua escrita? Pelo ritmo que escreves, deves publicar algo mesmo; se não o faz, deveria. Eu não tentaria lembrar de festa alguma, te permito conhecer outra característica minha: não sou muito curiosa. E apesar de essa ser uma condição bem injusta - tu saber de mim e eu não saber de ti - não vou estragar teu divertimento. Aceito e agradeço os elogios ;)

      Ah, vou procurar me ocupar mais do Neruda, quase pude sentir a resignação (e desdém?), dele. Obrigada.

      P.s: os erros passaram despercebidos.

      Excluir
  5. Desculpe pelo abandono.

    Nesta minha cabeça antiquada para os dias de hoje não acho correto flertar, mesmo que anonimamente, com alguém quando estou num pseudo-relacionamento. O irônico nesta situação é que por um breve e inocente deslize nesta condição unilateral e sine qua non de exclusividade, acabei dando cos burros n'água.

    Gente louca só se bica. Mas volto para minha vida de cabeça erguida.
    Non, je negrette rien... Non... rien de rien... . "Edith Piaf"

    E antes que você pense, não, não sou tão velho assim. Tenho apenas um gosto musical eclético.

    Hoje não estou cuidando como escrevo. Estou meio cansado do pisar em ovos. E como um serial killer, devo ter o desejo latente de ser descoberto.

    Para manter o hábito, e porque estou melancólico, te deixo um poema de Robert Frost e mais um link com um vídeo de um comercial da Ford com este poema, vale a pena ver.

    The Road Not Taken

    Two roads diverged in a yellow wood,
    And sorry I could not travel both
    And be one traveler, long I stood
    And looked down one as far as I could
    To where it bent in the undergrowth;

    Then took the other, as just as fair,
    And having perhaps the better claim
    Because it was grassy and wanted wear,
    Though as for that the passing there
    Had worn them really about the same,

    And both that morning equally lay
    In leaves no step had trodden black.
    Oh, I kept the first for another day!
    Yet knowing how way leads on to way
    I doubted if I should ever come back.

    I shall be telling this with a sigh
    Somewhere ages and ages hence:
    Two roads diverged in a wood, and I,
    I took the one less traveled by,
    And that has made all the difference.

    http://vimeo.com/23101880

    ResponderExcluir