Queria ter te enviado uma
mensagem de final de ano. Um sms qualquer, discreto, como de costume, mas com
aquele luminoso que denuncia a tua importância pra mim. Queria ter te desejado
um natal bom, um ano novo massa. Queria ter pensado minuciosamente nas palavras,
as interpretado das mil formas que eu imagino que você interpretaria, pra
fracassar de maneira digna. Mas eu não enviei. A operadora do celular não foi o
problema. Eu só não enviei mesmo. Não enviei porque você não sabe ser gostado.
Você fica pequeno e acha que te querer bem é um problema meu. Você devolve
minhas palavrinhas e carinhos todos naquele saco de indiferença que costurou
com a minha sinceridade. Burrinha ela, a minha sinceridade. Você usou aquele
espanador com penas de mim e foi varrendo minha vontade pra debaixo daquele
tapete vermelho que eu jogo quando você passa. Eu agora cerro os lábios, ainda
perco para os olhos, mas a boca eu fecho. Engulo meu afeto em formato de
ouriço-do-mar e te deixo ir... Você sempre quer ir.
Eu nunca te abri a porta, mas enfeitei ela toda com as estrelinhas que saíam do meu olhar quando você dizia aquelas coisas bonitas pra mim, pra que você ficasse mais a vontade pra entrar, puxar uma cadeira, esbarrar no meu colo e fazer dele um bom lugar. Acontece que eu já guardei as xícaras e não compro mais o pão que você adora. Não teço mais uma colcha de pontos de interrogação para que você me cubra todas as noites. Aposentei as canetinhas coloridas com as quais eu descrevia esse meu trabalho voluntário, que é gostar de você. É a coisa mais altruísta que já fiz na vida: gostar de você. Mas se me perguntar, eu minto. Minto até virar verdade. Porque meu gosto ainda está agarrado na lembrança, e se posso lembrar, também posso esquecer. Na verdade, hoje eu não te gosto. Te gosto ontem. Quem eu sou hoje não gosta de você, porque você hoje parece não gostar de ser gostado. Você desaprendeu a construir e só fica na sombra, enquanto eu estou com o lombo no sol. Minha pele tá ressequida, precisando de água limpa, saliva nova, novidade. Mas aqui ainda sou eu de ontem e você de ontem e nós de ontem. Talvez por isso eu não tenha te mandado uma mensagem de ano novo... É no tempo passado que melhor te conjugo. No que é novo você não cabe.
Eu nunca te abri a porta, mas enfeitei ela toda com as estrelinhas que saíam do meu olhar quando você dizia aquelas coisas bonitas pra mim, pra que você ficasse mais a vontade pra entrar, puxar uma cadeira, esbarrar no meu colo e fazer dele um bom lugar. Acontece que eu já guardei as xícaras e não compro mais o pão que você adora. Não teço mais uma colcha de pontos de interrogação para que você me cubra todas as noites. Aposentei as canetinhas coloridas com as quais eu descrevia esse meu trabalho voluntário, que é gostar de você. É a coisa mais altruísta que já fiz na vida: gostar de você. Mas se me perguntar, eu minto. Minto até virar verdade. Porque meu gosto ainda está agarrado na lembrança, e se posso lembrar, também posso esquecer. Na verdade, hoje eu não te gosto. Te gosto ontem. Quem eu sou hoje não gosta de você, porque você hoje parece não gostar de ser gostado. Você desaprendeu a construir e só fica na sombra, enquanto eu estou com o lombo no sol. Minha pele tá ressequida, precisando de água limpa, saliva nova, novidade. Mas aqui ainda sou eu de ontem e você de ontem e nós de ontem. Talvez por isso eu não tenha te mandado uma mensagem de ano novo... É no tempo passado que melhor te conjugo. No que é novo você não cabe.